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Cego é barrado em ônibus em Rio Grande

Publicação:

Para ir aos treinos, maratonista Vladmi dos Santos utiliza a mesma linha pelo menos três vezes por dia. Foto: ROBERTO WITTER
1310731338vladmi.JPG - Foto: Zero Hora
Campeão nas ruas e pistas, um dos para-maratonistas mais rápidos do mundo se sentiu derrotado ao andar de ônibus. Ao tentar descer de um coletivo em Rio Grande, Vladmi dos Santos, 40 anos, foi impedido pelo motorista.

Vladmi entrou no ônibus da linha São João-Avenida Pelotas, da empresa Noiva do Mar, por volta das 10h de ontem e andou cerca de 20 minutos. Ele ia de casa para o local de treinamento. Na hora de desembarcar, o motorista não permitiu, dizendo que era necessário a presença de um guia. No entanto, a lei municipal nº 7.033 isenta as pessoas com deficiência visual desse acompanhamento.

O maratonista tentou pagar a passagem. Porém, como tinha apenas R$ 1,50 – a passagem custa R$ 2,35 –, teve de ficar dentro do ônibus. Vladmi só conseguiu descer após a chegada de uma equipe da RBS TV ao local. Antes, deu duas voltas entre o ponto de partida e o fim da linha.

Contraponto
O que diz a empresa Noiva do Mar, por meio de nota
O motorista, ao chamar a atenção do cidadão, se enganou, achando que era para todas as deficiências que o portador deveria estar acompanhado. No caso da deficiência visual, isso não se aplica. A fiscalização da empresa foi acionada e solucionou o caso. Já entramos em contato com o passageiro pedindo desculpas. Lamentamos o ocorrido e estamos tomando as precauções para que não ocorra novamente.
roberto.witter@gruporbs.com.br

ENTREVISTA
“Eu me sentei no banco e, sozinho, chorava”
Vladmi dos Santos, maratonista

Para-maratonista da seleção brasileira, Vladmi dos Santos foi impedido de descer do ônibus quando se deslocava para uma praça de Rio Grande, onde treina para a Maratona de Berlim, no dia 25 de setembro, e para os Jogos Para-Panamericanos, em novembro, no México.

Zero Hora – Esse é um trajeto comum no teu dia a dia?

Vladmi dos Santos – Eu faço esse trajeto, pelo menos, três vezes ao dia, que é o período que eu uso para fazer meus treinamentos diários.

ZH – Alguma vez isto já havia ocorrido?

Vladmi – Desde 2004 até hoje, nunca tinha acontecido nada parecido. Pelo contrário, sempre fui muito bem atendido por todos os motoristas da linha. São meus amigos. Infelizmente, esse motorista, acho que por desinformação, acabou fazendo com que esse fato lamentável, de constrangimento e arrogância, tenha acontecido. Isto foi privar os meus direitos de ir e vir.

ZH – Qual foi o sentimento na hora? De discriminação?

Vladmi – Eu procurei, primeiramente, achar que aquilo foi provocado pela desinformação do motorista, tanto é que quando insisti, ele foi um pouco mais ríspido. Senti que ele pode ter pensado: “tu és cego, jamais vais conseguir descer na tua parada sozinho”. Na hora, eu me sentei no banco e, sozinho, chorava. Vi que tudo aquilo que eu venho fazendo foi jogado fora.

ZH – Tens algum ressentimento?

Vladmi – Eu não tenho rancor dele (do motorista), mas fico chateado com quem passou a informação para ele.

ZH – Há problema na sociedade?

Vladmi – Acho que falam muito em acessibilidade. Em alguns locais isso está sendo implantado, mas é preciso também trabalhar a mente das pessoas. Muitas precisam parar de nos tratar como coitados, infelizes e incapazes de fazer as coisas sozinhos.
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